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domingo, 17 de janeiro de 2016

Inocência Oculta

Foto: topimagens.com

Inocência Oculta


No interior do Ceará
No alto sertão nordestino
Nascia um pobre menino
Oriundo de um caso amoroso
Do patrão da sua família
Que também tinha uma filha
Do seu casamento honroso

O menino muito bonito
Foi crescendo muito inocente
Sem maldade em sua mente
Ajudava aos seus pais
Na luta do dia a dia
Não sabia que existia
Infidelidade jamais

O patrão do seu pai
Coronel Chico Leitão
Muito rico na região
Era um grande fazendeiro
Homem valente e corajoso
Temido por todo povo
Pra mulher muito faceiro

Toda mulher da região
Que ele botava o olho
Através de um crioulo
Mandava lhe avisar
Que ele queria a ela
Sendo ou não donzela
Não adiantava escapar

Solteiras ou mesmo casadas
Os homens nada sabiam
Se soubessem nada faziam
Pois todos tinham medo
Aguentavam tudo calados
Ficavam de olhos fechados
Eram mortos ou sem emprego

A mãe de Zé Antônio
Mulata nova e bonita
Fogosa que nem cabrita
Também não escapou
Numa noite de lua cheia
Com sangue quente na veia
Chico também lhe amou

Depois desse ato
Ninguém soube de nada
Ela se mantinha calada
Com a culpa na consciência
Chico Leitão sempre a possuía
Cada vez mais lhe queria
Para saciar sua carência

A barriga foi crescendo
Sem poder falar para o marido
Se não corria perigo
Com o tal do Chico Leitão
Até que o menino nasceu
O marido pensando ser seu
Criou com amor no coração

O tempo foi passando
Zé Antônio foi crescendo
Sua vida foi vivendo
Sem nada a lhe preocupar
Margarida filha do patrão
Por ele sentia atração
Queria lhe namorar

Zé Antônio de cor morena
Mistura da relação
Admirado por sua educação
Já era um adolescente
Margarida o admirava
Por ele se apaixonava
Não tirava ele da mente

Zé Antônio tinha liberdade
Na casa de Chico Leitão
Respeitava o seu patrão
A ele o idolatrava
Tinha toda confiança
Carregava a liderança
Fazia tudo que lhe mandava

Margarida já mocinha
Tinha também a mesma idade
Carregava sua ingenuidade
Com amor no coração
Obra prima do divino
Perfeição num corpo feminino
A mais bonita da região

Os dois sempre se encontravam
Zé Antônio admitia
Que havia uma energia
Entre ele e Madalena
Seu coração acelerava
Seu sangue nas veias pulsava
Com seu cheiro de açucena

Madalena retribuía
Com seu sorriso angelical
Formosura sem igual
Corpo em desenvolvimento
Zé lhe desejava e queria
Mas sabia que não podia
Alimentar esse tormento

Tinha medo que seu patrão
Descobrisse esse amor
Sofria com sua dor
Sem poder se revelar
Era apenas um empregado
Pobre sem um tostão furado
Sem nada pra lhe ofertar

Margarida muito elegante
Só tinha olhos para o zé
Sonhava ser sua mulher
Ser sua pra toda vida
Sonhava com ele acordada
Sentia-se por ele amada
Ser desejada e querida

O zé correspondia
Seus olhares e anseios
Vivia em devaneios
De nervoso ficava mudo
Namorava com seu olhar
Vontade tanta de beijar
Aqueles lábios carnudos

E assim eles viviam
Aquele romance sem contato
Os dois loucos por um tato
Esperando uma aproximação
Amavam-se com ternura
Desejavam-se com loucura
Viviam uma imensa paixão

Depois de algum tempo
Zé criando coragem
Fez-lhe uma abordagem
Segurou a sua mão
Margarida correspondeu
Abraçando-lhe um beijo deu
Começando a relação

 Zé um pouco assustado
Com aquela reação
Beijou-lhe com sofreguidão
Não querendo se afastar
Não queria que o tempo passasse
Nem tão pouco ela se afastasse
Mais forte a lhe abraçar

Depois daquele dia
Após aquele beijo ardente
Zé e Madalena, contentes.
Juraram prova de amor
As escondidas se encontravam
Cada vez mais se apaixonavam
Rogavam benção ao senhor

Aproveitavam o fim de semana
Saiam pra passear
Zé sempre a lhe cortejar
Era seu fiel guardião
No lago de aguas puras
Confirmavam suas juras
Namoravam deitados no chão

O coração de Madalena
Completamente apaixonado
Por ela já tinha se entregado
Para o homem da sua vida
Zé tinha muita vontade
O medo lhe mostrava a verdade
Estava num beco sem saída

O namoro ficava mais firme
Com os dias que se passavam
Eles não imaginavam
O que o futuro os aguardava
Zé tomou uma decisão
Ia falar com Chico leitão
E contar o que se passava

Madalena ficou contente
Com a decisão do seu amor
A ele muito incentivou
Prometendo está do lado
Marcaram a hora e o dia
Tamanha era a alegria
Do casal apaixonado

Logo na outra semana
Era o aniversário de Madalena
Tinha festa e novena
Pra todos da região
Marcaram pra esse dia
Contar o que acontecia
Naquela ocasião
  
Os dois não viam a hora
De chegar esse momento
E selar com juramento
A esse amor inocente
Falar com Chico Leitão
De Madalena pedir a mão
Serem felizes eternamente

Madalena ia completar
Dezoito anos de idade
Atingir a maioridade
Uma mulher já feita
Pronta para amor sério
Descobrir seus mistérios
Uma obra muito perfeita

Zé Antônio muito alto
Também tinha a mesma idade
Já com a maioridade
Achava-se preparado
Musculoso e muito forte
De atleta tinha um porte
Pronto para está casado

Ele sabia de um problema
A diferença financeira
A família da sua parceira
Era rica e tinha poder
Além de pobre era empregado
Tinha pouco estudado
Mal sabia ler e escrever

Mas o amor que ele sentia
Pela sua linda amada
Enfrentaria qualquer parada
Nada lhe desmotivava
Para ter o seu amor
Seja na alegria ou na dor
Ele já se preparava

No fundo Zé Antônio
Sabia que seu patrão
O temido Chico Leitão
Jamais iria aceitar
Seu casamento com Madalena
Sabia que ia ter problema
Mas iria enfrentar

Sozinho com seus pensamentos
Zé começou a planejar
Se leitão fosse negar
A mão da sua princesa
Ele não desistiria
Com ela ele fugiria
Isso ele tinha certeza
  
A mãe de Madalena
Muito simples e educada
Não queria ter criada
Vivia pra sua família
Cuidava dos seus afazeres
Cumpria com os seus deveres
Não gostava de mobília

Muito bonita também
Mas de uma família humilde
Sabia de tudo, acredite.
Só queria ser feliz
Concordava sempre com o marido
Com ele não tinha atrito
Era tudo que ele sempre quis

Criou Madalena sua filha
Com afagos e carinhos
Muito amor e muitos mimos
Era sempre sua criança
Fazia todos os seus gostos
Até porque nunca lhe deu desgosto
Seu orgulho e esperança

Teve um período na vida
Quando seu marido infiel
Chamou seu irmão Manoel
Para vir lhe visitar
Alzira sofrendo muito
Com esse amor vagabundo
Resolveu se vingar

Teve um caso com o cunhado
Não aguentava tanta traição
Traiu o Chico leitão
Com seu irmão Manoel
Ninguém nunca desconfiou
Esse seu caso de amor
Pois era uma mulher fiel

Chico Leitão ao contrário
Cabra rude e ignorante
Impiedoso e arrogante
Não compadecia de ninguém
Oriundo de campina grande
Dizem ter sido membro de volante
Malvado igual a ele não tem

Dizem que na redondeza
Com a vizinhança não tinha amizade
Tratava a todos com desigualdade
Tinha muita ambição
A sua fortuna dizem não comprou
Não sabemos como conquistou
Era o mais rico da região
  
O seu grande sonho
Era ter somente um filho
Pra não ter nenhum empecilho
Dando assim continuidade
Ao seu império muito gigante
Sem se preocupar nenhum instante
Com a sua divisibilidade

Mas com a esposa não conseguiu
Ordem superior do divino
Assim quis o destino
Que houvesse a traição
Tratava o zé com amor
Pois dentro do seu interior
Sabia qual a razão

Próximo ao dia do aniversário
Zé juntou suas economias
Foi na cidade certo dia
Comprar uma roupa decente
Queria bem se apresentar
A Madalena impressionar
E trouxe também um presente

Chegando o dia da festa
Muito trabalho e correria
Teve missa no início do dia
Muito churrasco no almoço
Muita gente pra todo lado
Chegando mais convidado
Era grande o alvoroço

O capelão da cidade
Chico leitão mandou buscar
Pra sua filha abençoar
Naquele dia de felicidade
Muita fartura de comida
E também muita bebida
Queria todos, à vontade.

O melhor sanfoneiro
Que existia na região
Presente na ocasião
Pra festa ele animar
Tinha também um zabumbeiro
Um triângulo e um pandeiro
A noite toda pra tocar

Madalena muito bonita
Mostrava toda pureza
Com um vestido azul turquesa
Estava a desfilar
Cumprimentava os convidados
Com um sorriso estampado
Gentileza singular
  
Na cabeça um belo arranjo
Nas mãos um par de luvas
O vestido mostrava as curvas
Nos pés sandálias importadas
Na boca batom vermelho
Um belo coque no cabelo
Meia calça nas pernas torneadas

Não lhe faltavam pretendentes
Filhos dos outros fazendeiros
Dos pais seriam herdeiros
Um futuro garantido
Madalena não se importava
Com os galanteios que lhe davam
Já tinha o seu príncipe escolhido

Zé Antônio também estava
Bem vestido e elegante
Não deixava nem um instante
De ser bem observado
Pela visão de Madalena
Que o acompanha em toda cena
Com seu olhar apaixonado

Madalena não tirava
Os olhos de zé Antônio
Sonhava com o matrimônio
Que iria realizar
Pensava no momento
Do pedido de casamento
O que seu pai iria achar

Ela também já tinha
Os seus planos todos feitos
Se não ocorresse direito
O que no momento lhe convém
Seu pai não o perdoaria
Pra sempre sofreria
Não casaria com mais ninguém

Depois do grande almoço
A tarde foi chegando
Os rapazes se aproximando
Que o forró vai começar
Todos estavam animados
De Madalena, enamorados.
Com ela queriam dançar

Madalena nesse instante
Procurou o seu amor
No seu braço segurou
E com ele começou a bailar
Falou no seu ouvido baixinho
Pra depois saírem de fininho
E pra ele não lhe largar
  
O salão estava cheio
O tempo foi passando
Todo mundo já dançando
A festa muito animada
O sanfoneiro não parava
Com todo tipo de toada
Animava a rapaziada

Madalena e Zé Antônio
Foram saindo de fininho
Encontraram-se num cantinho
Começaram a se abraçar
Ninguém prestou atenção
Pois naquela ocasião
Todos só queriam dançar

Quase perto de meia noite
Zé e Madalena voltaram
A dançar eles começaram
Xote forró e baião
A meia noite era os parabéns
Momento que o Zé também
Iria lhe pedir a mão

Os pais de Zé Antônio
No salão a bailar
Dançavam sem parar
O chico e sua esposa também
Quando meia noite chegou
O forró logo parou
Pra cantarem os parabéns

Madalena com os seus pais
E Zé Antônio por perto
Ficaram boquiabertos
Pois o bolo era gigante
Cantaram os parabéns
Soltaram fogos também
Zé falou por um instante

Todos ficaram calados
Com o que o Zé tinha pra falar
A mão de Madalena pôs a segurar
Com firmeza falou a Chico leitão
Que por ela estava apaixonado
Os dois já eram namorados
E queria a sua mão

Chico leitão muito surpreso
Com aquela atitude
De repente ficou rude
Com aquela declaração
Jamais podia aceitar
Os dois não podiam casar
Achou uma afrontação
  
Por dentro estava inchado
De tanta raiva que sentia
Mas nada fazer ele podia
Pois o Zé era seu filho
O povo se aglomerava
A discordância começava
Tirando da festa todo brilho

A mãe de Madalena
Sabendo toda a verdade
Sabia toda maldade
Que seu marido sentia
Pra acabar com a confusão
Tomou logo uma decisão
Falando que permitia

Pois deus abençoava os dois
Justamente naquele momento
E que logo o casamento
Deveria começar
Chamando logo o capelão
Que ainda estava na ocasião
Para os dois abençoar

Chico leitão ficou calado
Pois nada pode fazer
O segredo não podia dizer
Pra não ser desmoralizado
A mãe de Zé Antônio
Quando viu o matrimônio
Desmaiou com medo do pecado

Assim naquele momento
Mesmo sendo improvisado
O ato foi realizado
Com a benção do nosso senhor
Com as alianças já nos dedos
Zé agora sem mais o medo
Pegou Madalena e beijou

Todo esse segredo
Somente Alzira sabia
Pra Chico jamais diria
Que um dia o tinha traído
Justamente com o seu irmão
E o fruto dessa união
Madalena tinha nascido

Após o surpreso casamento
A festa recomeçou
A noite toda, o sanfoneiro tocou.
Até o dia amanhecer
Chico leitão ainda não entendia
Mas no fundo ele sabia
Que tinha feito por merecer
  
A partir daquele dia
O Chico se aquietou
Sua consciência pesou
Por conta desse pecado
Achava que sua mulher
Não sabia que o Zé
Era seu filho bastardo

Pedia perdão a deus pai
Por ter unido seus dois filhos
E ele não ter podido
Impedir o casamento
Se isso fosse verdade
Com toda sinceridade
Deus não daria consentimento

O sonho de Chico leitão
Era ter um herdeiro
Pra ser seu fazendeiro
Na hora de descansar
Agora tinha um casal
Alegria sem igual
A promessa iria pagar

Zé Antônio e Madalena
Viveram felizes pra sempre
Tiveram cinco sementes
Seus filhos muito amados
Nunca houve traição
Só amor e consideração
Naquele lar abençoado.

AUTOR: JOABNASCIMENTO
DATA: 27/11/12
Recanto das Letras: JOABNASCIMENTO
Blog: Joaobnascimento55.blogspot.com

Twitter: @ljoaobatista

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