O Deputado Prudente

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O Deputado Prudente

No nordeste é assim

Comigo ninguém pode

Uma palavra é uma ordem

Ninguém te leva a pagode

A garantia de uma palavra

É um fiapo do bigode

Numa certa região

Numa pequena cidade

Onde a tal da oligarquia

Domina uma sociedade

Tinha um homem recursado

Amigo de uma autoridade

Esse homem tinha um filho

Que não gostava de estudar

Adorava fazer farras

E também de ostentar

Gostava de dinheiro fácil

Mas não queria trabalhar

O amigo deste homem

Vivia na capital

Era membro de uma família

Dominante excepcional

Mandava e desmandava

Era deputado estadual

Como sempre o deputado

Visitava o seu lugar

Nos seus momentos de folga

A cara tinha que dar

Procurava sempre o amigo

Pra um papo conversar

O deputado prudente

Assim era o seu nome

Tinha a lábia de um cordeiro

E a pele de lobisomem

Matava do pobre a sede

E também matava a fome

Era o que ele prometia

Pra todos da região

O mesmo discurso antigo

Na época de eleição

Só que nada ele fazia

Pra aliviar a situação

Na sua última visita

Ao amigo de infância

Ouvindo as artimanhas

Deu uma grande importância

Prometeu logo um emprego

Independente da distancia

O filho com muita preguiça

Mesmo assim foi viajar

Á procura do deputado

Pra o emprego arranjar

Depois de muita insistência

Do pai a lhe perturbar

Chegando a capital

Foi até o grande palácio

Cumprimentando a todos

Com seu gesto muito grácil

Com esforço e sacrifício

Na vida nada era fácil

O deputado sabedor

Daquela nobre visita

Demonstrando sua bondade

E conseguir a conquista

Chamou os funcionários

E até um jornalista

Queria que esse ato

Fosse notícia na sua cidade

Sua imagem exaltada

Um poço de integridade

Pra que todos o vissem

 Sinônimo de prosperidade

Uma equipe esperava

O futuro funcionário

Com pompa e regalia

Parecia um empresário

Todos estavam empenhados

Momento extraordinário

O gabinete estava lotado

Com todos os assessores

O amigo jornalista

E muitos bajuladores

Todo plano encomendado

Por trás dos bastidores

Ao entrar na grande sala

O rapaz muito matuto

Teve um susto imediato

Mas também era astuto

Não tremer ao encarar

Aquele homem rude e bruto

Todos estavam preparados

Pra essa grande entrevista

O fotógrafo tirava fotos

Pra publicar na revista

Intermediando os dois

Estava o jornalista

Atrás da grande mesa

Estava o nobre deputado

Falou: seja bem vindo

Meu querido afilhado

Um sorriso grande nos lábios

Pra que fosse logo notado

Em frente ao deputado

Tinha um grande sofá

Confortável de veludo

Pra ele se acomodar

O assessor eficiente

Pediu pra ele sentar

Começando a entrevista

O deputado foi perguntando

Quais os cursos que ele tinha?

Onde estava estudando?

O jornalista muito esperto

Foi logo assessorando

O rapaz encabulado

Falou rápido sem demora

Acabei com os estudos

Estou disponível agora

A minha vontade agora

É logo de ir embora

O deputado perguntou:

Você tem datilografia?

A resposta foi um não

Os seus dedos todos doíam

Além do mais era caro

Pagar esse curso não podia

Se ele queria ser office-boy

Ou trabalhar no almoxarifado

Tomar conta dos veículos

Que estavam estacionados

Não aceitou nenhum dos três

Pois vivia muito cansado

Ser operador de informática

Ou então seu motorista

As estradas não tinham buracos

Só iam andar na pista

Não gostava de dirigir

Isso lhe doía à vista

Ser personal trainner

Ou então o seu barbeiro

Trabalhar de segurança

Ou então de jardineiro

Tomar conta do escritório

Da cozinha e do banheiro

Personal cansa muito

Barbeiro não aprecia

Segurança é perigoso

Plantas lhe dão alergia

Não sabia dirigir

Informática não sabia

O deputado sem saída

Sem saber o que fazer

Prometeu em alto tom

Um emprego você vai ter

Sou um homem de palavra

Isso eu fiz por merecer

A partir desse momento

Você é meu funcionário

Não precisa referência

Nem período de estagiário

Não importa a função

Você vai ter o seu salário

Você já está cadastrado

Independente do setor

Não se preocupe com função

Seja ela qual for

Todo mês você comparece

Pra receber o seu penhor

Não precisa você vir

No setor diariamente

Só uma vez por mês

Pra dizer que está presente

Ou mesmo se você quiser

Aparecer aqui de repente

Você é meu afilhado

Tem um futuro promissor

É meu representante na cidade

Perante o administrador

Com todo o seu talento

Brevemente será doutor

Começou a elogiar

Sua presença e educação

Ele representava agora

Os jovens da região

Seria seu substituto

O progresso da nação

O jovem sem entender

Louco pra ir embora

Pediu uma palavra

Seria rápido sem demora

Começou logo a dizer

O que estava sentindo agora

O deputado curioso

Com que o jovem iria falar

Já imaginava as palavras

Que iria lhe elogiar

Com um sorriso aberto

Ficou atento a escutar

O jovem reclamou

A distância da capital

Uma viagem todo mês

Causar-lhe-ia um grande mal

Era muito cansativo

Uma maldade descomunal

Por isso ele queria

De essa viagem ser dispensado

Não valeria a pena

Fazer todo traslado

E que todo o seu salário

Todo mês fosse enviado

O deputado muito surpreso

Não se fez de rogado

Acatou o seu pedido

Pra ser ovacionado

Assinou a papelada

Pra ser fotografado

Esse causo só ilustra

A grande aberração

Por trás dos bastidores

Só existe aberração

Políticos e impostores

Tomam conta da nação.

AUTOR: JOABNASCIMENTO

DATA:16/06/15

Recanto das Letras: JOABNASCIMENTO

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