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quinta-feira, 3 de março de 2016

O Porteiro Do Puteiro

Foto:joaobnascimento55.blogspot.com

O Porteiro Do Puteiro

Não existe profissão pior
Do que ser um porteiro
Principalmente se o local
Do trabalho for um puteiro
Aceitando os desaforos
De vagabundos e cachaceiros

Era o que todos falavam
Há muitos anos atrás
Período infernal
Regido por satanás
Num pequeno povoado
O nome  eu não lembro mais

Esse povoado pequeno
Jamais eu saberia 
Num pedaço da Itália
Era ali que existia
Tinha uma casa de madame
Funcionava noite e dia

O local era bem antigo
Muito afamado na região
Fundado há vários anos
Com intuito de diversão
Visitado por fazendeiros
Comerciantes e peão

As garotas dessa zona
Eram todas selecionadas
Passavam por uma escolha
Eram bem inspecionadas
Tinham que ser jovens e bonitas
Pra serem logo contratadas

No local já existia
Um porteiro de plantão
Um homem rígido e honesto
Bem provido de razão
Começou a trabalhar
Desde sua inauguração

Já tinha certa idade
Não sabia escrever
Foi criado sem educação
Sabia de tudo fazer
Jamais tinha estudado
Nunca aprendeu a ler

Nunca tinha trabalhado
Em outra profissão
O seu primeiro emprego
Que surgiu na ocasião
Desde jovem era o porteiro
Todo dia de plantão

Um dia entrou um gerente
Um jovem empreendedor
Os donos já bem cansados
Contrataram o seu labor
Cheio de ideias e criativo
Persistente e trabalhador

Decidiu modernizar
Aquele estabelecimento
Trazer mais novidades
Aumentar o movimento
Fez mudanças nos setores
Pra melhorar o atendimento

Chamou os funcionários
Para uma reunião
Todos ficaram atentos
Prestando muita atenção
Falou das suas mudanças
Queria muito dedicação

Ao porteiro ele disse:
À partir de hoje o senhor
Vai ter mais uma missão
O tempo você vai dispor
Além de ficar na portaria
Vai fazer outro favor

Um relatório semanal
Onde você registrará
As saídas e entradas
E tudo você anotará
A quantidade de clientes
Que vieram aqui visitar

Vai anotar os comentários
E também reclamações
Resolver os problemas
Evitar as confusões
Espero que sejam cumpridas
Todas essas instruções

O porteiro falou sem jeito
Adoraria isso fazer!
Infelizmente suas ordens
Eu não posso obedecer
Como vou fazer anotações
Se não sei ler nem escrever!

O gerente friamente
Com indiferença no olhar
Na vista de todo mundo
Sem compaixão demonstrar
Sinto muito, mas se é assim.
Aqui não pode mais trabalhar

O porteiro muito surpreso
Respondeu aquela baboseira
O senhor não pode me despedir
Trabalho nisto a vida inteira
Não sei fazer outra coisa!
Só sei tomar conta da porteira!

O gerente sem demonstrar
Falou sem ter compaixão
Olhe, eu até compreendo.
Não tiro a sua razão
Para compensar seu trabalho
Darei-lhe uma indenização

Assim você procura
Alguma coisa aprender
Isso vai lhe ajudar
Até encontrar o que fazer
Espero que tenha sorte
É o que desejo a você

O porteiro sem acreditar
Ficou de cara no chão
Não sabia o que fazer
Na real situação
Sentiu o mundo desmoronar
Abriu uma cratera no chão

Lembrou que no prostíbulo
Tudo ele consertava
Não precisava pedir
Apenas a ele mostrava
Mesas, cadeiras e camas.
Até criado mudo arrumava

Isso poderia ser
Uma boa ocupação
Já conhecia o ramo
Sabia de cor a questão
Até conseguir um emprego
Exercer outra função

Mas só tinha alguns pregos
Mesmo assim enferrujados
Um serrote um alicate
E um martelo sem o cabo
Precisava adquirir
Pra isso teria cuidado

Usaria o seu dinheiro
Fruto da sua indenização
Iria para a cidade
Fazer averiguação
Compraria mais ferramentas
Ficaria à disposição

No seu povoado não tinha
Casa de vender ferragens
Os moradores precisavam
Só faltava era coragem
Teria que ir a outro lugar
Levaria dois dias de viagem

Era num lombo de uma mula
Que teria de viajar
Não existia transporte
Pra poder facilitar
Um trabalho sacrificante
Mas teria que comprar

E assim fez a primeira viagem
Com a coragem para lutar
No seu regresso um vizinho
Veio logo lhe visitar
Quero saber se você tem
Um martelo pra me emprestar

Eu tenho assim ele disse
Hoje acabei de comprar
Está nova de boa qualidade
Nem cheguei a usar
O problema é que preciso
Dele pra trabalhar

Eu devolvo amanhã cedo
Foi dizendo o vizinho
Faça-me esse favor
Desculpa está pedindo
Se é assim pode levar
Mas devolva-o cedinho

No outro dia bem cedo
Seu vizinho bateu à porta
Não acabei o serviço
A madeira era torta
Ainda preciso do martelo
Espero que não se importe

Porque você não me vende?
Eu quero o martelo comprar!
Sei que vou passar uns dias
E ele precisa usar
O porteiro respondeu: não
Preciso dele pra trabalhar

Vamos fazer um trato
Não vou mais bater à porta
Vou lhe encomendar
Pagarei os dias de ida e volta
Mais o preço do martelo
Essa ferramenta muito me importa

A proposta era interessante
Sem pensar ele aceitou
Seria um bom negócio
Deus assim o presenteou
Daria-lhe dois dias de trabalho
Montou na mula e viajou

No regresso outro vizinho
O esperava em sua casa
Pra comprar umas ferramentas
Pois ele muito precisava
Com seu novo projeto
Assim ele negociava

Abriu a caixa de ferramentas
E começou a separar
Alicate e martelo
E uma máquina de furar
Foi aparecendo mais clientes
Para lhe encomendar

Alicate e chave de fenda
Serrote e talhadeira
Broca, pua e tesoura.
Chave de boca e peixeira
Pagavam e iam embora
Produto era de primeira

As pessoas mais desinibidas
Começavam a falar
Que não disponham de tempo
Pra poder viajar
Traga mais ferramentas
Que todos irão comprar

Isso ficou gravado
Latejando em sua mente
Era bem sacrificante
Mas também era decente
Compraria mais ferramentas
Pra vender para aquela gente

Na viagem seguinte
Arriscou com mais dinheiro
Trouxe mais variedades
Mas também sem exagero
Trouxe mais ferramentas
Atendeu o povo inteiro

Por todo o povoado
A notícia se espalhou
Quem quisesse ferramentas
Era só procurar o senhor
Todos faziam encomendas
Para o novo vendedor

Como novo vendedor
Viajava uma vez por semana
Trazia o que encomendavam
Começou a entrar grana
E assim foi negociando
A vista ninguém engana

Passado alguns meses
Não precisou mais viajar
Fazia pedido aos vendedores
Que mandava lhe entregar
Em menos de um ano
Uma loja veio inaugurar

Ele era um bom cliente
Comprava sempre à vista
Sua fama na redondeza
Era motivo de conquista
Agora um empresário
Empreendedor idealista

O sucesso foi tão grande
Satisfação com os clientes
Atendimento de primeira
Satisfação pra toda gente
Todo povo da redondeza
Estavam todos contentes

Um dia ele lembrou
Da sua época de porteiro
Se soubesse ler e escrever
Não teria outro roteiro
Com certeza ainda dava plantão
Como porteiro no puteiro.

Esse cordel foi baseado
Num fato verídico real
História de vida de um homem
Que soube ser genial
Valentin Tramontina
Um empresário fenomenal.

AUTOR: JOABNASCIMENTO
DATA: 11/07/15
Recanto das Letras: JOABNASCIMENTO
Blog: joaobnascimento55.blogspot.com
Twitter:@ljoaobatista

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