Foto:joshuaquim.blogspot.com
Vida Sofrida
Sou um viajante da vida
Poeta inexperiente
Carrego comigo as feridas
Com a dor da minha gente
No corpo tenho as marcas
Dessa vida carente
Pouco estudo eu tenho
Muito mal eu sei ler
Rabisco mal o meu nome
Soletro o meu saber
Por intuição eu venho
Esse conto escrever
Lembro-me do sofrimento
Naquele pequeno torrão
A terra seca rachando
O sol torrando o chão
Tirando de lá o sustento
Vou seguindo o meu quinhão
As mãos calejadas
De tanto a enxada usar
A fome me tira a força
Sem ânimo fico a pensar
Os pés todos rachados
Por não ter o que calçar
Uma calça remendada
Camisa velha no varal
Essa é a sua vestimenta
Para a noite de natal
Somente a fé em deus
Me livra de todo mal
Uma casinha de barro
Muito perto de ruir
O teto todo esburacado
Está preste a cair
As mãos enrolam um cigarro
É o que lhe faz sorrir
Na cabeça um velho chapéu
No bolso nenhum tostão
No fogo uma velha panela
Fervendo um pouco de feijão
Roga olhando pro céu
Que caia chuva no chão
Dorme logo ao entardecer
Pensando no outro dia
Será se vai chover?
Seria demais alegria
Acordava ao alvorecer
Com a barriga vazia
Mesmo assim não desistia
Tinha que ir trabalhar
Todo dia no velho roçado
Teria que capinar
Pensava na família
Que tinha que sustentar
Ao acordar bem cedinho
Sem nada para comer
Tirava do pote num cantinho
Um copo d’água pra beber
Seu corpo pedia um pão
Para lhe abastecer
Assim de barriga vazia
Saia para a labuta
Na mente só esperança
Pra vencer aquela disputa
A enxada no ombro trazia
Pra recomeçar a luta
Andava algumas léguas
Até chegar ao roçado
Na mente só esperança
De tudo que tinha pensado
O sol não dava trégua
Para aquele chão escaldado
Reunia toda energia
Que ainda lhe restava
Com o feijão e farinha
Que ainda lhe alimentava
Na esperança de um dia
A chuva a terra molhava
Ao bater com a enxada
Naquele duro torrão
A poeira levantava
Saía faísca do chão
Era triste aquela cena
De doer o coração
O sol queimava a terra
E também toda caatinga
Pra enfrentar aquela luta
Tinha que ter no corpo a ginga
Pois no pé daquela serra
Tudo que planta não vinga
Fugiam as esperanças
Daquele povo mateiro
Tinha hora de desânimo
Com a falta de dinheiro
Ingênuos que nem criança
Lidavam de janeiro a janeiro
Quando uma gota d’água caía
Naquele chão tão ardente
Um sorriso logo surgia
Na boca daquela gente
Era só felicidade
Todos ficavam contentes
Voltavam as esperanças
Dias melhores virão
A brisa a refrescar
Esfriando aquele chão
Quem luta com esperança
Jesus é nosso irmão
À colher todo feijão
Arroz mandioca e milho
Dalí tira o pão
Para alimentar os filhos
Voltava o sorriso nos lábios
Nos olhos também o brilho
Na mesa do cidadão
Muita farta em alimento
Não sabem qual a luta
Nem tão pouco o sofrimento
Muito menos que é do chão
Que o roceiro tira o sustento
Se não fosse o roceiro
Que plantasse esse chão
Faltaria para o povo
Uma boa alimentação
Na mesa do brasileiro
Só hambúrguer e salsichão
A vida do sertanejo
É dura e não tem trégua
Tem que ter disposição
Coragem de um pai d’ égua
Pra chegar ao vilarejo
Tem que andar muitas léguas
Sem chance e sem estudo
Só a garra pra vencer
Essa é a vida no sertão
Sem perspectivas de crescer
Tirando do chão o sustento
Lutando pra sobreviver
Enquanto a tal sociedade
Se mata para crescer
Cada um pisando o outro
Matando pra não morrer
Eles vivem sem maldade
Desse mundo a mercê
Essa vida tão carente
Desse povo sofredor
Que trabalha sol a sol
Com dignidade e pudor
Machuca o coração da gente
Dilacera o nosso amor.
AUTOR:
JOABNASCIMENTO
DATA: 06/04/12
Recanto das
Letras: JOABNASCIMENTO
Blog:
joaobnascimento55.blogspot.com
Twitter: @ljoaobatista
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