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A Senhora e o Mendigo
Caía à tarde, o calor começava
a fugir, amenizando um pouco a temperatura de quase 40 graus que dominou por
todo o dia aquele lugar, as sombras das casas e dos prédios, abafavam um pouco
o reflexo do sol que teimava em queimar e aquecer, como o fogo a arder, sob uma
panela de pressão.
Numa certa rua desse lugar, na
região central, próximo ao centro comercial, encontrava-se um velho. Um senhor
de certa idade bem avançada, com barba branca por fazer, mas no momento meio
amarelada, maltrapilho, desprovido de todos os bens possíveis, tanto moral
quanto material, mal cheiroso, os poucos cabelos que ainda restavam em sua
cabeça e teimavam em não cair, estão despenteados e sujos, os dentes em sua
boca não passavam de um par na parte superior, seus pés descalços, mostravam
calos e rachaduras no calcanhar, informavam que há anos não sabiam o que era um
calçado, suas unhas grandes e sujas, alojavam detritos escuros oriundos da
falta de higiene, ao seu lado uma manta suja que lhe servia de cobertor, em
volta muitos papelões que serviam de colchão pro seu descanso, numa sacola
velha, pedaços de panos e restos de roupas rasgadas que serviam pra ele vestir.
Sua barriga tão vazia faltava encontrar com as costas, pois, sua alimentação só
acontecia quando alguém de bom coração doava algo pra ele comer, tinha
dificuldade de andar, as pernas já não mais obedeciam aos seus comandos, pois a
resistência há tempos já tinha ido embora também. Esse homem de rua estava
naquele dia, sem esperanças, com fome, que a dor fazia descer lagrimas do seu
rosto, rogava a deus a chegada da noite, para que o sono chegasse e assim
amenizasse um pouco o seu sofrimento.
Quando de repente, se aproxima
uma senhora, muito bonita, bem vestida, a aparência demonstrava uma pessoa de
muita posse, uma condição de vida que ele nunca imaginou, mas, seu semblante
mostrava que um dia também mau bocado já passou.
Tudo aconteceu porque essa
senhora, que raramente passava nessa rua, nesse dia resolveu sair pra jantar,
ao passar com seu carro por ali, algo lhe chamou atenção naquele indigente,
pois, o olhar daquele homem estava marcado pra sempre na sua memória.
Estacionou seu carro importado, e foi ao seu encontro.
O homem ao vê-la se aproximar,
sentiu algo familiar também no seu olhar, mas, nada disse, pois, o medo que sentia
das pessoas, o aterrorizava, independente de quem se aproximasse, fosse homem,
mulher ou criança, todos o evitavam e o ignoravam ainda se dava por satisfeito
quando não era maltratado, quando passavam e o deixavam em paz. Sentiu o
coração acelerar, o corpo tremer, quando a mulher se aproximou, pois, imaginava
que mais uma tortura iria sofrer. Para sua surpresa e espanto, a mulher se
agachou, tomou-lhe as suas mãos entre as suas, encostando seu rosto junto ao
seu, o cumprimentou com um sorriso tão familiar, e o convidou para jantar.
Nesse instante, um guarda ia
passando, e, imediatamente se prontificou a protegê-la, desse ser nocivo que
estava a incomodá-la. A senhora, sem tirar a vista daquele olhar, pediu ao
guarda que lhe ajudasse a atravessar a rua e o conduzisse ao restaurante que
ficava quase em frente.
O pobre homem cambaleante, com
muita dificuldade pra se conduzir, foi levado e numa cadeira foi acomodado. O
restaurante era muito chique, padrão cinco estrelas, com ar central, pianos
bar, comidas raras, local frequentado por pessoas da alta sociedade, com grande
fartura de dinheiro. No mesmo instante que a senhora, e o mendigo, junto com o
guarda adentraram o estabelecimento e se acomodaram um garçom muito educado se
aproximou e pediu que eles se retirassem, pois, aquele mendigo não poderia ali
ficar, pois, iria expulsar todos os clientes do estabelecimento. A senhora
também muito educada, perguntou ao garçom quem era o gerente dali.
Imediatamente o gerente se aproximou e se apresentou, também pedindo que o
mesmo dali fosse retirado. A senhora perguntou se ele conhecia o dono daquela
rede de restaurantes espalhadas por todo o Brasil, o mesmo disse que não
conhecia e que nunca ouviu falar. A senhora se apresentou como a proprietária
da rede e explicou o motivo daquele ato de caridade: há muitos anos atrás,
quando aqui cheguei, vindos do interior, pra cursar uma faculdade, eu não tinha
pra onde ir e nem aonde comer.
Esse homem, que agora vocês
querem daqui expulsar, foi quem me deu casa e comida todo dia, nesse local que
aqui estamos, e que na época, era apenas uma pequena pensão que vendia comida.
Aqui eu trabalhei, estudei e me formei. Por motivos pessoais, que só ele sabe,
certo dia ele sumiu, desapareceu sem dar notícias, como ele não tinha família,
ou se tinha, ninguém o procurou, eu fiquei trabalhando, trabalhando... Até que
fui crescendo, administrando com unhas e dentes, e hoje sou a responsável por
essa rede de lojas administradas por mim, pois o verdadeiro dono é esse aqui, o
patrão de vocês.
Há anos o procurava, até que
hoje tive a felicidade de me deparar com esse olhar que um dia com tanta
caridade me acolheu e matou minha fome. Ele sim é o dono de tudo isso, por
direito. Por isso nunca julguem ninguém pela aparência, esse homem deveria estar
há dias nesse local, nunca veio pedir um prato de comida pra saciar sua fome,
no próprio restaurante que ele é o proprietário.
Carregue sempre nas veias de
vocês, o sangue da caridade. Façam o bem, que um dia ele retornará
multiplicado.
AUTOR: JOABNASCIMENTO
DATA: 06/08/15
Recanto das Letras:
JOABNASCIMENTO
Blog: joaobnascimento55.blogspot.com
Twitter:@ljoaobatista
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